Mais uma madrugada. A noite estava fria. O relógio da matriz daria apenas uma badalada...faltavam poucos minutos.
O cocorocó convidava-me ao longe a esperar a resposta de outos cocorocós.
Era noite lá fora; no meu quarto, era dia; em mim, a escuridão acompanhava a noite fria.
O cobertor não aquecia. Acendi um cigarro. A fumaça incomodava, mas eu precisava de companhia. Amigo? Inimigo! Bem a mim não fazia.
Joguei o cobertor e o galo insistia. Ele também queria companhia. Mas, ele não sentia frio nem ausência...certamente teria resposta ao apelo.
Atirei longe o cigarro. Esmaguei o travesseiro e ele não gritou! Por que fica tão silencioso? Faço-lhe orelhas e ele nem resmunga.
Já soou a terceira badalada. Naquele canto nem a fumacinha do cigarro está mais presente. Sinto frio.
Abro a janela. Os carros gélidos, friíssimos. O galo não canta mais. Outro e outro e outro cigarro. Agora, a fumaça naquele cantinho faz-me companhia.
O relógio ao longe insiste. Tenho frio.
O cocorocó reinicia. O quarto torna-se mais claro. Os olhos arenosos permanecem firmes para mais um dia que recomeça.
Haverá repetição desse filme ainda hoje. Basta o sol baixar e, assim, a noite chegar.
Um comentário:
Relatas a solidão com maestria de quem conhece o jogo das palavras...parabéns, gosto muito!
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