domingo, 22 de janeiro de 2012

um homem da construção

Veja!
Mão. Mãos.
Mãos de um homem
marcadas pelos tijolos pesados,
escorregadios, às vezes,
talentosos na construção.

Muitas fizeram desde quando pequeno eu era:
de roça, de enxada,
de terra vermelha, de pés descalços,
enlameados fazendo bota.

Já de filhos criados chegeuei à cidade
sem eira, nem beira.
Mãos...e as sacolas penduradas.
Mãos
que não aprenderam a unir vogais,
consoantes, formar palavras, frases....
mas, souberam construir:
"tijolo sobre tijolo num desenho mágico" até arranha-céus.

Mãos:
acalentaram crianças,
afagaram tijolos
amaciaram cimento, areia e água.
Mãos que plantaram feijão, plantaram arroz,
Mãos que cozinharam feijão e arroz na panela preta!

Mãos.
E hoje? O que fazem?
Mãos trêmulas, enrugadas,
apagadas...
não constroem mais!!

Nem os cabelos dos netos afagam
nem colher para mexer o feijão com arroz seguram
nem o nada acalentam.
Mãos!
Perderam o valor.

Aposentado
de sálario mixo para 70 anos de construção.
"Encostado"
velharia,
zero à esquerda,
nem escada
nem patamares
nem tijolo sobre tijolo...nada mais!

De homem,
de construção resta o nome: - Sebastião!
de pai ficou a lembrança...o coração.

Um comentário:

Claudio Manoel disse...

Gostei muito, você é pessoa mais do que especial, parabéns pelo relato puramente sincero com palavras extraídas do âmago de sua alma, é o que passa...